Passamos pelas ruas ‘a correr’, e
com uma crescente sensação de repetição: repetem-se as roupas, cortes e cores
de cabelo, perfumes, carros, slogans,
prédios, etc. Nesta imensidão de informações, tão semelhantes, como ver e
perceber os traços de singularidade, que por vezes estão tão escondidos?
Um detalhe é quase sempre um apelo
despretensioso, discreto. Seja numa paisagem, seja num conjunto de roupa, seja numa
frase cheia de palavras, seja numa respiração. Os nossos olhos não foram feitos
para os detectar e, com o acréscimo dos anos, vão-nos dando outro tipo de limitações,
que nos obrigam, ainda mais, a perder de vista o contorno |como o de uma lua
nova que, mesmo sendo cíclica, é sempre ligeiramente diferente|. Também os nossos
ouvidos, dizem os entendidos, estão preparados para registros de sons abaixo de
20 Hz, logo a grande maioria é incapaz de dar importância ou de registrar o
silêncio entre as notas musicais, mesmo que neste silêncio resida a verdadeira
música. O nosso olfacto e paladar, normalmente, são incapazes de notar as notas
mais sublimes presentes num copo de vinho, a não ser que sejamos especialistas
no assunto.
Os detalhes, portanto, não chamam
a atenção dos nossos sentidos. Essa não é a regra. E uma das razões, para tal,
é o facto de que a descoberta e a contemplação de um detalhe, seja ele de que
natureza for, exige algo que nos cansamos de dizer que não temos- |embora os
dias disponham, cada um deles, de mais de mil minutos|- Tempo.
Aprendemos a viver na padronização.
As regras, tendências de moda, etc., fazem com que qualquer diferença seja apelidada
de peculiar ou até excêntrica. Tendemos a esquecer que um sinal, uma marca, de um
formato estranho, no nosso corpo, uma cicatriz, um sorriso ou uma gargalhada
mais estridente, todos estes pormenores de estilo, atitude, de maneiras de ser,
que nasceram connosco, são detalhes e provas vivas da nossa unicidade. Tendemos
a esquecer, porque olhamos para o todo, que grandes mudanças acontecem a partir
de pequenos detalhes, mesmo que à partida possamos não lhes dar muita
importância. Detalhes que são momentos e que perpetuam lugares, palavras,
gestos, pessoas.
Uma atitude, por menor que seja,
cria força e a partir daí, inicia-se um processo de novas interacções e de
consequências, previsíveis ou não. Esta é a lei de acção e reacção, o chamado
efeito borboleta, que revela o quanto tudo deriva de pequenas "gotas"
que existem num oceano gigante.
Sou pessoa de particularizar, logo, assumidamente, de pormenores. Vejo-os como marcos decisivos em vidas
singulares. Seja num pensamento, seja numa situação, seja numa conversa, seja
num, simples, look. Gosto de os esmiuçar, de lhes captar o odor, a essência. Perco-me,
vezes sem conta, na análise de todos os que me passam “pela frente”. Perco-me
na subjectividade, mas é |sempre| nela que encontro o que é para mim a real beleza
de todas as coisas, e por isso vejo os detalhes como toques de magia que
existem em cada um de nós, o que é, no fundo, um pequeno detalhe. ➸ |Simples assim|.
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