Quando era adolescente, achava graça em estar na conversa
sobre o “amor”. Sobre as relações. Na minha/ nossa ingenuidade, significava a
dedicação àquela pessoa a quem demos uns amassos, e que ainda por cima dava
umas “baldas valentes”. Era adolescente, e o amor era carnal. Estava certo? Não
sei, mas era bom e ingénuo, o resto que se lixe. O mundo era lindo.
Actualmente, décadas depois, o tema em qualquer mesa
continua a ser o mesmo. A discussão continua a ser o amor e sinto-me muitas
vezes voltar a essa adolescência, mas por vezes acreditem que já não tenho
pachorra. Deixou de ser algo que se falava por ingenuidade, de descoberta, para
ser algo que se discute com propriedade, em que na verdade se fala sempre mal
de alguém. E esse passa a ser o tema da conversa: falar mal da outra pessoa
(que não está presente), dar razão à pessoa que está connosco e que nos vai
dizendo “já viste a forma como ela respondeu à minha mensagem??”, e ir regando
tudo com uns goles de vinho mau para nos irmos lembrando que a miséria pode ser
ainda maior do que parece.
Eu, na ingenuidade da meia-idade, atrevo-me a dizer que
encontrar o amor não é complicado - o difícil é os egos de ambas as pessoas
estarem em sintonia, no mesmo período de “vontades”. E o amor ganha assim
muitos novos significados. “Eu amo-te, mas isso não quer dizer que quero viver
contigo, casar ou ter filhos” ou então “eu amo-te, mas esta semana não vou
conseguir estar contigo porque tenho coisas combinadas com os meus amigos” são
algumas das novas correntes de pensamento. Sou da apelidada “geração rasca”
(expressão criada em 1991 devido a protestos estudantis), ou seja, sou do grupo
dos feios, porcos e maus, e que se estão borrifando para preconceitos, regras,
virtudes - e até conheço o tipo que despiu o rabo virado para a Assembleia da
República -, mas confesso que nem assim estava preparado para estas modernices.
Isto leva-me a pensar que o futuro neste tema é tão incerto como a caminhada de
uma toupeira – vai-se andando até se ver, mas na verdade somos cegos.
Mas agora duas pessoas que dizem “amo-te” têm de esperar
pelo quê?? Parece que estamos num filme de romance… daqueles que chego ao fim e
digo “não percebi”. E a única pessoa que está a perceber é ela, tipo: “és mesmo
bruto, então não vês que eles amam-se mas ela não está habituada ao frio de
Seattle nem à música grunge e que, por isso mesmo, aquilo não vai dar?” ……………….
Não, estes pontos não são um erro, apenas exemplificam a minha cara poker de
cada vez que ouço estas irracionalidades e que para-parecer-cool-e-normal-e-não-alimentar-uma-discussão-de-meia-hora
prefiro nem mexer um músculo.
Costumo dizer que o mundo não é preto e branco, e que há
muuuuuito cinzento “in between”. É verdade que existem também outras cores, o
que o torna fantástico. Mas não me obriguem a estar a viver sempre num cor-de
rosa manhoso, tipo filme série B, porque as cores ainda são as cores. Ou também
querem desvirtuar as cores como as conhecemos? Alguém que ponha ordem na casa.
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