SE TU GOSTAS... |EU QUERO É QUE SEJAS FELIZ| #15

No talho:
Eu - Pode arranjar 500 gramas de carne picada?
Talhante de meia-idade - Com certeza. Aqui tem. Posso servir-lhe com mais alguma coisa?
Eu - Não, obrigado, excepto se me disser que tem algo que vale mesmo a pena levar.
Talhante de meia-idade - Coisas que valem a pena… passam algumas por aqui, sim senhor. (risos)
Eu - Hum?
Talhante de meia-idade - Mas nem sempre! (mais risos)
Eu - Ou seja tem dias? – pergunto para entrar na brincadeira.
Talhante de meia-idade - Aparece todos os dias, mas é fraquinho… olhe, é o que há!
Conclusão: trabalhar no talho tolda-nos a assertividade… para ele é tudo carne.

Já diz um amigo meu, repetidas vezes, que “isto anda tudo ao mesmo”. E às vezes tenho que dar a mão à palmatória. Mas por que razão é que o talhante, que nunca vi, me aborda sobre a qualidade das suas clientes? Se eu nem nunca o tinha visto? Isto leva-me a crer noutra coisa: a solidão e a falta de amor tolda-nos a vida em sociedade. Sempre disse que quem descobrir a solução para a solidão fica rico. O Zuckerberg inventou o Facebook – ficou rico. O Kamprad inventou o Ikea e a forma de os-adultos-estarem-entretidos-com-o-seu-Lego – ficou rico. Não sei quem inventou as chamadas de valor acrescentado mas o resultado é o mesmo – estão ricos. Existem mais exemplos de produtos/ actividades/ serviços que passaram a fazer parte da vida e a entreter os muitos solitários por esse mundo fora, mas ainda ninguém encontrou a fórmula certa.

Já o talhante, estando com as mão sujas da carne não pode ir ao Facebook, montar um móvel ou fazer uma “chamadinhapratóquio”, mas lá me encontrou e “invadiu” com a sua solidão. Numa altura em que cada vez mais as empresas lutam para ter menos pessoas para reduzir custos, será que esses cada vez mais “solitários” – por não terem já colegas de trabalho – não estão a ficar paranóicos? Sou do tempo em que ter telefone em casa já não era para todos, quanto mais cada um ter um telemóvel. Assisti a muitas mudanças e apetece-me dizer “já vi de tudo”. Posto isto, será que ainda vamos ver a sociedade a empregar pessoas para fazer companhia às que lá trabalham? Tipo damas de companhia? É que eu não estou a ver o Sistema Nacional de Saúde com capacidade para “tratar” todos os solitários que estão a ser criados…

Estou até a pensar em lançar o repto ao nosso Governo não-eleito: vamos lá a ser inovadores e criar uma Ordem dos Acompanhantes (não confundir com a profissão de desgaste rápido). É que o tempo que estive ali a trocar dois dedos de conversa com o talhante, que me fez perder o foco nas minhas preciosas compras, também devia ser pago. Ou será que deveria considerar o meu acto como caridade? Eu não sei… mas o melhor é estar calado senão ainda inventam um imposto para estas coisas… Como dizem os antigos, haja saúde!

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