SE TU GOSTAS... |EU QUERO É QUE SEJAS FELIZ| #8

Tenho saudades de muitas coisas. Dos velhinhos Minis ou FIAT 127 com 7 ou 8 pessoas lá dentro e cintos de segurança nem vê-los; de distinguir numa pastelaria da moda os pobres dos ricos através do seu pedido – galão ou meia de leite; de motoqueiros sem capacete a fazer “cavalinhos”; de ver todos os homens portugueses de bigode; e de não ver uma única mulher com qualquer tipo de maquilhagem na rua.

Tesourinhos da minha memória que ainda hoje me fazem sorrir. Mas actualmente a terra é igualmente fértil – continuamos a ter uvas, melancias, pêras, laranjas… e labreguices. Ainda recentemente, no Metro de Lisboa, ouvi (reparem que não disse ouvia) uma rapariga adolescente a falar com um amigo, e a explicar-lhe porque a amiga dela não quis beber café com o amigo dele. E passo a citá-la: “É óbvio que ela não queria beber café com ele, se não queria f*** com ele…”. Garanto-vos - a expressão na cara dela não mudou, mas na minha sim. Falou abertamente, como se não estivesse num Metro de final de tarde, ou seja, compostinho. Fui até casa a pensar que devo ser antiquado…

Lembro-me das pessoas a pedirem café: era cheio, em chávena quente, uma bica, uma italiana, um café sem princípio… já eram algumas variantes que eu, miúdo, pensava necessitar de um manual para compreender todas estas exigências. Mas eis que os tempos modernos nos trouxeram a globalização, e com ela veio o capuccino, o latte macchiato e ainda o Starbucks. E foi aqui que quase desisti de beber café. É que quem pede um café, bica, expresso num Starbucks corre o risco de parecer um marciano. Daqueles com olhos grandes… Ali, no Starbucks, não é anunciado que têm café. O que anunciam é ter Bebidas com Expresso (está assim escrito no seu site). Goste-se ou não das dezenas de variantes que apresentam, e mesmo depois de escreverem o meu nome num copo para dar aquele ar de atendimento personalizado, o que eu gosto mesmo é do facto de terem Wi-Fi. Ao contrário de um “café tuga”, onde se ia para falar um pouco, neste vai-se para ter internet. E para se estar sozinho com a atenção enfiada num Smartphone ou Tablet. É o café do século XXI – é o café dos solitários.

Para mim, um dos flagelos do século XXI é a solidão e quem descobrir solução para a mesma fica rico. O Starbucks não descobriu a solução, apenas identificou o problema e arranjou forma de captar essas pessoas para seus clientes. Mas porque não existe uma cadeia de cafés onde não existe Wi-Fi nem “Correio da Manhã” ou “A Bola” para ler, mas existe alguém para conversar? Tipo compra-se um café (normal, por favor…) e tem-se direito a 10 minutos de conversa com uma pessoa. Pode correr bem, pode correr mal, mas é tal e qual como na vida real. Justificava-se o preço exorbitante do café (algo que não compreendo no Starbucks) e dava-se emprego a muita gente. Os anúncios iriam proliferar: “Procura-se alternadeira para café em Casal de Cambra” ou “É bom de comunicação? Venha apenas conversar” ou então “Já está velho/a para trabalhar num bar mas quer aplicar toda a sua experiência? Seja alternadeiro/a”.

O objectivo era um regresso ao passado onde as pessoas realmente conversavam num café. Independentemente das variantes que se pede num café - existe também a moda espanhola de pedir cubos de gelo num copo à parte, mas vai-se lá compreender as esquisitices de determinadas pessoas… - o que importa é comunicar. E muito. Porque antigamente é que era bom.

CONVERSATION

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