Ao contrário da maior parte dos talentos que já nascem connosco, este é um que temos que trabalhar e praticar durante toda a nossa existência. Aceitarmos os outros e aceitarmo-nos a nós. Parece fácil dito assim, mas a aceitação é um verdadeiro desafio que temos inconscientemente que praticar todos os dias. Aceitarmos que não podemos mudar os outros e sobretudo que temos que nos aceitar a nós, com todas as partes menos boas que temos (e este sim é o verdadeiro desafio).
Nunca é fácil admitirmos que podíamos ter feito diferente, melhor, que não somos exactamente como desejaríamos e como pensávamos. Nada mesmo! A este pensamento vem sempre associada a frustração e uma enorme baixa de auto-estima. E quando isso acontece, todo o nosso interior entra em "alerta vermelho", é inevitável. Todos os dias sofremos pressões externas para sermos melhores, para sermos (mais) magros, mais bem- sucedidos, tão bonitos quanto "a" e "b", são inúmeros os exemplos que poderia dar. Estas pressões externas passam a fazer parte de nossas vidas de uma forma que deixamos de conseguir diferenciar se vieram de fora para dentro, ou se fomos nós próprios a criá-los no nosso interior. Iniciamos uma sequência de pensamentos que nos dizem “o que sou hoje não é suficiente”, “preciso ser de outra maneira”, “preciso de pensar diferente”, ou e ainda “devo ser e fazer como as pessoas me dizem ou ser como elas”.
Alguns conseguem lidar bem com estes pensamentos e necessidades incutidos pela sociedade em que vivemos, mas acredito que a maior parte de nós já não sabe diferenciá-los ou adequá-los à sua realidade. Passamos então a não nos aceitarmos e a desenvolver uma enorme baixa auto-estima. Deixamos de acreditar, de gostar de nós e as consequências disto podem ser (são) nefastas tanto física como emocionalmente. Passamos cobrar-nos cada vez mais vamo-nos esquecendo do que é verdadeiramente importante para nós e para a nossa essência- As nossas qualidades e potencialidades. Estas deixam de ser valorizadas, pelo contrário, são esquecidas.
A aceitação é uma verdadeira arte. Como assunto que me interessa particularmente, tenho vindo a perceber que se aceitarmos o que está feito e que o que resta somos nós próprios e o que aprendemos ao longo do caminho, torna tudo, não mais fácil, mas um pouco mais leve. A verdade é que não podemos mudar o passado, não podemos. Temos simplesmente de o aceitar, o nosso e o dos "outros". Temos de aceitar o que somos e assentar o nosso projecto de vida nessa mesma base. Caso contrário andaremos sempre numa luta interna inglória que não nos levará a lado nenhum. A nossa meta não deverá ser alcançar a perfeição, mas sim o oposto, simplesmente aceitar. Isto não quer dizer que não deveremos tentar mudar o que gostamos menos em nós, pelo contrário! Aceitar não é = a resignar, não! Aceitar é começarmos com o que temos para depois, dia após dia optar por melhorar de alguma forma. E isto é tudo o que nos devemos exigir. Não o sermos perfeitos, mas sim fazermos a opção de diariamente tentarmos melhorar e aceitar, também, que não o vamos conseguir fazer sempre. Porque não somos perfeitos... O objectivo aqui é não deixar margem para auto- recriminação.
Devemos deixar de estar constantemente a reparar nas nossas falhas, sermos implacáveis até, e em vez disso, frequentemente, darmos as tais palmadinhas nas costas e dizermos a nós próprios: "Estás a ir bem, segue em frente" e não esperarmos que ninguém as dê por nós.
"Aceita-me tal como eu sou. Só então poderemos descobrir-nos um ao outro". F. Fellini
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